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quarta-feira, 27 de junho de 2012

Ganhando, mas sem ilusões


Passou a Espanha. Terá o direito de disputar sua segunda final consecutiva de Euro. Acho que não vai vencer, mas... Méritos a um time que joga há bastante tempo junto e mantém um padrão de futebol, sim. Mas sem tantos aplausos ao tal padrão espanhol. O que vimos no jogo de hoje é que uma seleção que jogue sem medo, como Portugal, mas sem o nervosismo na conclusão, é perfeitamente capaz de derrotar a Espanha.

Você vai me dizer, "Ah, mas a Espanha teve mais posse de bola, como sempre, dominou, bla bla bla..." Bullshit! 57% de posso de bola não é domínio. Seis escanteios e 10 finalizações de Portugal contra 3 e 6 da Espanha não é domínio. Se alguém, por esforço durante os 90 minutos deveria ter saído com a vaga, seria o time do Cristiano Ronaldo, por 1 a 0, mas seria. Não me leve a mal, a Espanha jogou bem, mas está longe de ser o mito apoteótico que pintam. Toca a bola bem, o futebol é o melhor do mundo, os times espanhóis, etc. Mas não podemos nos esquecer que os 3 caras que fazem do futebol espanhol o melhor ofensivamente do mundo não estavam em campo. E um estava do outro lado do campo. É notável como fica difícil para a Espanha ganhar como quer sem o tal "homem da decisão", sem Messi, Cristiano Ronaldo ou, vá lá, David Villa.  Não que seja um time incapaz, pelo contrário. Xavi e Iniesta são grandes armadores de jogo, jogadores inteligentes e com poder de mudar jogos. Xabi Alonso segura bem o ritmo do meio e Fabregas dispensa qualquer comentário. Só que não tem mistério jogar contra esse time.


Portugal fez a coisa certa. Pela única vez na minha vida, vi Cristiano Ronaldo correndo de um lado a outro dando combate na saída do jogo. Sufoco. Portugal rifando pouco a bola. Olhando e calculando as jogadas. Esbarraram na falta de homens de qualidade na criação, com certeza (Cristiano costuma receber bola de Özil e hoje recebeu de João Moutinho), e um pouco no próprio nervosismo. "Vamos vencer a Espanha, tá tão perto!". Isso, pra quem já foi atleta e sabe, é o maior veneno para um competidor que está se saindo bem. É o que te faz perder na última curva. Mas está despido o fantasma. Desfeito o mito. É só corrigir as falhas de Portugal.


Uma eliminação nos pênaltis que pode ocorrer com qualquer um. Tal qual a malfadada prova do DETRAN, é a coisa mais psicológica e cruel do mundo. Eu acredito que a incapacidade dos portugueses de liquidar no tempo normal e na prorrogação (o que dava pra ver nos rostos deles que era o plano) mexeu com os brios e botou dúvidas nos cobradores. A Espanha entrou em campo pra passar, não interessa como. Postura de time vencedor e acostumado, time mais experiente que o de Portugal. E fez valer a condição. Cristiano Ronaldo não precisou bater (acho que ele perderia, como sempre) e acabou por ali mesmo. Mas mesmo essa postura de passar de qualquer maneira levou a um certo excesso de confiança do Xabi Alonso, batendo aquele pênalti displicente que ele bateu. Não estou aqui pra jogar pedras na Espanha, eles tem o que merecem pelo trabalho que fazem, só não quero que a gente se esqueça que muito do mito que se constrói em cima desse país está nos estrangeiros que estão lá. Imagina Real Madrid sem Marcelo, Cristiano Ronaldo, Khedira e Özil. Barcelona sem Daniel Alves e Messi. Agora imagina esse time jogando com a saída de bola pressionada, tendo que acelerar o jogo e errando o último passe. Jogando com os laterais sufocados e um time de meias habilidosos, ou com a capacidade de reter a bola, assim como eles. E aí, no que vai dar?

Na estréia de ambas as seleções, a Itália jogou melhor que a Espanha. Não fosse a displicência do Dennis Rodman dos gramados (Balotelli), teria facilmente ganho o jogo. Vem sendo comandada pelo cara que, pra mim, foi o melhor jogador da Itália na Copa em 2006 e repete a dose agora, Andrea Pirlo. Um autêntico maestro de meio como poucos hoje. A seleção da Alemanha joga um futebol forte, envolvente, inteligente. É a sensação da Europa. Como eu disse antes da Euro, "acho que o auge desse time espanhol foi em 2010. É a vez da Alemanha seguir o mesmo caminho deles em 2008". Não vou cravar nada, futebol é uma arte, não uma ciência exata. Mas te digo que qualquer um dos times que passe amanhã, e vejo a Alemanha um pouco à frente, é um potencial para derrotar a Espanha. Sou fã do bom futebol e acho bonito o toque de bola do meio de campo espanhol, mas não suporto jogo burocrático. Gosto de futebol agressivo, agudo. E acho que essa é a bola da vez. E é sempre bom variar o time dominante, senão o futebol fica chato e todo mundo cria um "complexo de Barcelona". O Chelsea veio esse ano com a missão de tirar um pouco dessa empáfia e conseguiu. Se é bonito ou feio, não importa. O importante é que os times que jogam bonito estão mordidos e vão entrar com mais gana ano que vem. E eu espero que as seleções aprendam essa lição. Seja a Espanha campeã mais uma vez, seja Alemanha ou Itália. É briga de cachorro grande.

Até a próxima,
João Marcos

2 comentários:

  1. Excelente post, concordo com sua análise sobre o jogo e sobre a tão "temida" seleção espanhola. Não sei quem será campeão mas torço para a Alemanha pelo belo futebol demonstrado até aqui. Como torci para a Espanha na Euro de 2008 e na Copa de 2010 pelo bom futebol demonstrado.
    Abraço.

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  2. É, no fim das contas eles levaram. Mas levaram porque alguém assumiu a responsabilidade de decidir, é o que eu disse no post. Mas quem é que sabe o que vai acontecer, né?

    De qualquer maneira, valeu pelo comentário

    Abraço

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