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quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Vitória com sabor de saudade

Hoje, depois de quase 2 anos, voltei a ver o Flamengo em campo pela Libertadores. E não vou dizer que foi mais ou menos especial, mas foi diferente. Eu gosto de ver jogo no Engenhão, acho um bom estádio, mas é nesse tipo de jogo que você vê que falta aquela coisa grandiosa do Maracanã lotado. Eu, durante meus 3 anos de CEFET, lá passava o dia todo esperando pra entrar no estádio. Todo mundo ia embora, ficávamos alguns rubro-negros lá, nervosos, naquela mesa escura de ping-pong, esperando a hora da verdade. Roía unha, ansiava. Entrava (eu sempre fui de cadeira azul) mais cedo e via o gigante encher, tanta gente que às vezes só tinha lugar lá atrás, e em pé, olhava pra cima e já sabia que a Raça ia encher e dar show. Que eu ia passar o jogo todo mandando o pessoal sentar. Ia ver o jogo em pé, em cima da cadeira e, com 1,87 que tenho, tapar a visão de todo mundo atrás. Ia sair de lá sem voz, pegar chuva. Ia sofrer, mas ia exercer o único dos meus amores que é incondicional. Aquele que é tão grande que é incapaz de me deprimir, só me deixa triste. Mas quando me alegra, o mundo fica diferente. Mas o Engenhão foi bom, relembrei a emoção de sofrer um jogo de Libertadores, decisivo, pegado e acima de tudo, a la Flamengo.




Falta muito pra esse time ser um time favorito na Libertadores, mas o Flamengo jogou hoje como quem conhecia o que fazia. Com confiança. Uma confiança que eu não via desde que o Adriano foi embora. Foi Flamengo. Jogou bem, dominou o jogo. Não fez uma partida magnífica, poderia ter goleado, deu seus famosos vacilos na bola aérea. Mas até quem não tava bem se doou. Correu, foi marcar, roubou bola, abriu espaço. Saí satisfeito de novo do estádio, depois de muito tempo. A última vez foi aquele Flamengo e Corinthians dramático da Libertadores de 2010. Aquele jogo com a cara dos dois times. Enlameado, difícil, Ronaldo e Roberto Carlos de um lado, Adriano, Petkovic e Love do outro. 1 a 0, gol de pênalti do Adriano. E hoje eu tive de novo um pouco desse gosto.



Começou marcando adiantado, como tem que ser, dominou a posse de bola e criou bem. Faltou frieza do Léo Moura e do Deivid, que perderam 2 chances por tomar a decisão errada e muito rápido. Luiz Antonio não estava bem, mas estava muito marcado e adiantado. Ronaldinho estava um pouco discreto no início, mas quando pegou na bola, mostrou porque foi 2 vezes melhor do mundo. Lançamento, drible, passe que só quem entende muito de bola consegue. A zaga foi serena, jogou simples e não foi muito ameaçada. Mas a velha bola aérea deu medo. O Flamengo foi recompensado com o gol do Léo Moura, homem do jogo, no fim do primeiro tempo. E daí veio o segundo e foi mais do mesmo. O Potosí cresceu um pouco no segundo tempo, levou perigo, mas não fez nada de absurdo. O Flamengo tava cansado, e o Vanderlei, acredito eu que no limite, botou Camacho e Muralha. Se demora mais, ia dar errado. Não tirou o Luiz Antonio, tirou o Renato, que alternou acertos e erros mas no geral foi bem. Os malditos torcedores de televisão ensaiaram uma vaia, mas a maioria da torcida apoiou. Não se vaia jogador na saída de campo, ainda mais quando ele se esforça, faz pelo time. Esforço merece reconhecimento. Luiz Antonio recuou para a posição dele, Muralha ficou pelo meio, Camacho também (entrou no lugar do Bottinelli, morto de cansado). Muralha tocou, deu uma boa cadência. Camacho carrega bem a bola, sabe bater, mas falta tranquilidade ainda, segurança. Junior Cesar fez uma partida defensivamente muito boa, fechou o setor, apesar de passes e domínios de bola perigosos. Mas o grande destaque do jogo foi o Leonardo Moura. Esse que entrou em campo hoje foi aquele Léo que chegou à seleção, depois de 2 anos de pedidos desesperados. Aquele que eu via pegar a bola no Maracanã e sabia que ia dar o drible e fazer a jogada do gol. Aquele Leonardo Moura do Flamengo campeão. Ele deu entrevista no fim do ano dizendo que ia dar um extra para voltar à sua melhor forma essa temporada, e a julgar pelas 2 partidas da Pré-Libertadores, está no caminho certo. Deivid saiu um pouco depois pra dar lugar ao Negueba, que deu aquele fôlego de corredor ao time. Ensaiaram mais uma vez uma vaia. Mas vaiar um jogador que, no meio de 3 zagueiros e 2 volantes, abriu espaços, foi pivô, deu passes, correu muito pra marcar, roubou bola, é uma injustiça enorme. Aplaudi sim, porque ele pôde sair de campo de cabeça erguida. E aplaudo ao Vanderlei, que se blindou do burburinho todo que botaram em cima do Flamengo, como sempre fazem com qualquer time quando não se tem notícia. Ele foi frio, distante, até um pouco indiferente pra alguns, mas ele foi profissional e fez o melhor pelo Flamengo. E continua técnico.



Hoje foi dia de relembrar espírito de ser Flamengo, relembrar espírito de Libertadores, mas dia também de lembrar com saudade e esperança de voltar o quanto antes, ao estádio que conta a história da minha vida, que eu frequentei durante 14 anos, até fechar. Quando a torcida canta, “O Maraca é nosso”, eu realmente senti falta de ouvir esse grito de dentro daquele mundo em que a gente cresceu aprendeu a amar, sonhar e ver o nosso coração em campo, em todas as situações. Volta logo, Maracanã! A saudade já tá grande demais!

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