Prometi e voltei com a segunda parte da série "11 outros Barcelonas". Só pra lembrar, eu tô listando 11 times que apresentaram um padrão técnico e tático que contribuiu pra formação desse time de hoje do Barcelona. Então vamo que vamo com a segunda parte:
Brasil de 58 – Muita gente vai chiar, “Mas e o Santos do Pelé?”. Bom, o Santos jogava com 2 volantes e 4 atacantes mesmo, de ofício. A ligação dependia de uma ocasional volta do Pepe ou do Dorval, às vezes do Pelé, mas não era padrão. E seus laterais jogavam completamente presos, os atacantes não voltavam pra marcar. Esse time fez milhares de gols e tomou milhares de gols. Não marcava pressão na saída de bola, deixava jogar. A Seleção de 58 também, mas com uma diferença básica: nela, o Pelé recuava mais pra buscar o jogo e o Zagallo voltava, fechando o meio quando a bola era perdida. Foi o nascimento do 4-3-3, ainda que sem aquela configuração clássica de ponta direita, centroavante, ponta esquerda. Com a volta desses dois, chegando-se até a lampejos de 4-4-2 com a bola, o time fluía melhor pros lançamentos do Didi, fazendo a função que hoje o Xavi faz no Barcelona. Garrincha também era participativo taticamente, facilitando um contra-ataque ou uma jogada de habilidade dele mesmo na linha de fundo. Em 62 a tática se manteve, com a entrada do Amarildo no lugar do Pelé, lesionado, e do Zózimo e do Mauro no lugar da zaga titular de 58 Orlando Peçanha e Bellini. Uma curiosidade é que Pepe, do Santos, seria o titular nas duas Copas, mas as suas lesões deram a vaga de titular ao Zagallo, que foi o maior responsável por essa mudança tática na seleção.
Botafogo dos anos 60 – Base de metade da seleção, em 2 gerações manteve um jeito de jogar, e similar ao do Barcelona, e esse foi o grande mérito desse time. Durante mais ou menos 8 anos, manteve um padrão de futebol com peças completamente diferentes. Na primeira formação, Didi maestro e Amarildo voltando, junto com Zagallo, pra fechar o meio e municiar Garrincha e Quarentinha. Nilton Santos sendo o primeiro lateral a tentar se aventurar no ataque, outra mudança importante. Na segunda formação, Gérson manteve o trabalho do Didi, e Jairzinho e Paulo César Caju assumiram as posições táticas de Amarildo e Zagallo. Esse time ganhou os Cariocas de 61,62,67 e 68, o Rio-São Paulo em 62 e 64 e a Taça Brasil de 68. Por isso são duas fotos, com as duas formações.
Brasil de 70 – Dizem que era o maior time de todos os tempos, não vi jogar, mas não deve ser à toa esse título. Semelhanças com o Barcelona são absurdas: volante jogando na zaga (mas porque o Piazza tinha qualidade, não que nem o Mascherano, batedor que se achou como zagueiro); um lateral direito fundamental no ataque do time, Carlos Alberto Torres, e um lateral preso para marcar, Everaldo; um meia habilidoso, que jogava de cabeça em pé, e fazia o time rodar, Gérson; 4 atacantes que voltavam pra compor o meio e flutuavam, dando um dinamismo que ninguém tinha visto antes. Diziam que era o time dos camisas 10, porque Rivellino, no Corinthians, Pelé, no Santos, Tostão, no Cruzeiro (apesar de jogar com a 8), e Jairzinho no Botafogo, eram pontas-de-lança ou, em alguns casos, o tal do meia esquerda. E essa polivalência deles fez com que a seleção de 70 tivesse uma tática que o Flamengo usaria em 81, ao seu modo, e a Holanda usaria em 74. Com a bola, o time era quase um 4-3-3, com um dos quatro voltando pra buscar a bola e iniciar. Sem a bola, virava um 4-5-1, com Pelé ou Tostão ficando na referência e os outros montando um bloco no meio. Além do toque de bola mágico, é claro.
Ajax de 73/Holanda de 74 – “Mas são 2 times diferentes!”. Não, não são. Religiosamente o mesmo esquema tático, mesmo técnico, mesmos craques, uma ou outra peça diferente. 5 dos 11 titulares eram do Ajax, e o esquema era simples: Ninguém guarda posição, todo mundo roda. A marcação é pressionada. Os 3 atacantes voltam, os 2 laterais sobem, zagueiros adiantam, volantes e pontas abrem e fecham. O seu 4-3-3 varia de diversos modos conforme a necessidade e o posicionamento dos jogadores. No ataque, esse time virava um trator, uma tropa, subindo com 7, às vezes 8 jogadores, e retornando com os mesmos após perder a bola. Um time de futsal, um time de basquete. Futebol total. É isso. E com a bola no pé, fazer mágica. Neeskens cadenciava e achava espaços para passes e lançamentos, Cruyff era um misto de ponta-de-lança, centroavante e meia-esquerda. Orquestrava, entrava driblando e fazia muitos gols. O melhor jogador do mundo nos anos 70. E o melhor time do mundo nos anos 70. Alguns dizem que o melhor de todos os tempos.
E assim já foram oito times. Não percam a conta que daqui a uns dias eu postarei os outros 3 times, fechando a série. Serão times um pouco mais recentes, e mais fáceis de a gente lembrar quem passou por eles e porque foram influentes. Claro que polêmica sempre vai haver e vai ter gente reclamando, então quem quiser, lista aí outros times, discussão tá sempre aberta. Abração, até mais!
Marcante? Seleção de 94, uma novidade: ganhar jogando feio!
ResponderExcluirEssa aí não acrescentou em NADA, pelo contrário! E olha só, mais respeito com o Romário...
ExcluirOh my God!! I was reading your second part of Ou outros Barcelonas and it was like if I was reading the Catalan News or the Catalan Newspaper which deals with FCBarcelona and all its techniques, the way its players move and its Cups.
ResponderExcluirAmazing that 4-3-3 was born in Brazil in '58 and that Cruiff was a ponta-da-lança (in Catalan it would be "punta de llança")i Ajax 73 and Holanda 74. I didn't know this!
I have read all the text in Portuguese, trying to understand all the words without a dictionary, and I have caught the idea better than if I had used Google traductor. And I have realized once more that if Barcelona is so good today is due to the things that other teams invented before. It's really interesting. I am quite sure that Pep Guardiola, Barcelona coacher, knows all this. :) I have discovered his secret thanks to you Joao!
Regards from Igualada (in Barcelona's province, as you know) ;)