Voltei hoje pra encerrar a seção sobre os "11 outros Barcelonas". Esses são times mais recentes, mais fáceis de comparar e de a gente saber o porquê. Claro que discussão a gente sempre tem, mas eu quero lembrar que o valor tático somado às semelhanças dos jogadores de cada posição é que fazem a minha lista. Então, sem mais delongas:
Flamengo de 81 – “Ah, mas o Guardiola falou da seleção de 82 e você é um clubista filha da puta”. A seleção de 82 pelos seus valores individuais, 3 deles desse time do Flamengo, os outros dois sendo Falcão e Sócrates, e se utilizava do tal ”quadrado mágico” no meio, 2 volantes e 2 meias, Éder de segundo atacante e Serginho centroavante. Esse time do Flamengo, além desses valores individuais, tinha um valor tático que ninguém no mundo tinha. Claudio Coutinho misturou conceitos da Holanda de 74 e do Brasil de 70, do qual ele foi preparador físico (na parte II do post, vocês podem ver o Coutinho na foto, do lado do Parreira), nesse time. O time atacava em bloco, mas com posições um pouco mais definidas: Adílio caindo mais atrás por um dos lados, conduzindo, como faz o Iniesta no Barcelona; Andrade, misto de Xavi e Busquets, roubava a bola e organizava, deixava tudo limpo pro time jogar; Leandro e Junior eram alas, armas ofensivas, e pressionavam a saída dos laterais adversários, como o Daniel Alves. Tanto é que Junior virou meia no fim da carreira; Zico, no meio, como o Messi, às vezes na referência, mas sempre de frente, driblando, abrindo o espaço e fazendo a mágica; os pontas, Lico e Tita, voltando ao meio, compondo e fazendo o bloco (quando Julio Cesar jogava no lugar de Lico, era mais um ponta mesmo, um atacante driblador, que entrava muito na diagonal e usava a linha de fundo); Nunes, o centroavante, a referência na área. 4-3-3 ou 4-5-1 com a bola, 4-5-1 sem ela. Foi o primeiro time no Brasil a ser, apesar da técnica toda de seus jogadores, tão tático assim. E ganhou 3 Brasileirões, 1 Libertadores, 1 Mundial e 4 Campeonatos Cariocas em 5 anos.
Milan dos anos 90 – O time dos holandeses do Arrigo Sacchi e depois o time internacional de Fabio Capello, levou 3 Ligas dos Campeões, 3 Italianos, 1 Copa da Itália e 2 Mundiais em 5 anos. Após uma draga braba e o rebaixamento para a série C no meio dos anos 80, Silvio Berlusconi comprou o Milan e investiu em tudo. Pouquíssimo tempo depois, estava no topo do mundo. Contratou da Holanda campeã da Eurocopa de 88 os melhores jogadores, Rijkaard, Gullit e Van Basten (melhor do mundo em 92 pelo Milan). Juntou os melhores defensores da Itália e do mundo no seu time, todos revelados pelo Milan (Costacurta, Baresi, Maldini e Tassoti), e deu um meio de campo consistente para os holandeses jogarem. Sacchi foi revolucionário ao botar o Milan pra jogar com 2 linhas de 4, a zaga adiantada até a intermediária e o ataque recuado até a outra intermediária, criando um bloqueio para o jogo adversário, a tal da pressão em 3 quartos de campo. Seu ataque jogava nas falhas provocadas por esse sistema, em velocidade, e assim conquistou tudo. A segunda formação, após a saída dos holandeses e do Arrigo Sacchi para treinar a Itália em 94, tinha Albertini, o francês Desailly e o croata Boban, além do futuro melhor do mundo de 95 e único africano com o título, George Weah.
Barcelona dos anos 90 – Por que o Barcelona? Porque Johann Cruyff assumiu o time e levou a filosofia da Holanda e de quase todos esses grandes times e levou pra Espanha, plantando a semente do time que hoje ganha tudo. A primeira formação supertime do Barcelona tinha Ronald Koeman na zaga, fazendo o gol do título europeu de 92, Guardiola e Laudrup no meio, e Romário, campeão mundial e melhor do mundo em 94, e Stoichkov, artilheiro da Copa de 94, na frente. E esse foi o pontapé inicial da era de ouro do Barcelona de hoje, que depois de uns anos de trabalho trazendo Figo, Rivaldo, Ronaldo, Ronaldinho, Deco, Giuly, Eto’o, Zambrotta, etc. e revelando Xavi, Messi e Iniesta, conseguiu consolidar esse futebol que todos acham mágico hoje.
E essa foi a seção dos 11 outros Barcelonas. Times que foram dando noções novas ao futebol e elaborando conceitos que vieram a moldar o que é essa máquina que a gente vê jogar hoje. Se vocês acham que faltou alguém, pode comentar, dizer o porquê, o debate (não a discussão violenta) é sempre bem vindo. Obrigado a todo mundo que leu, e já já eu volto aqui no Estagiários, falando de vários assuntos.
A seleção dos 11:
Wunderteam da Áustria 1934
La Maquina do River Plate dos anos 40
Hungria 1954
Brasil 1958
Real Madrid 1960
Botafogo dos anos 60
Brasil 1970
Ajax 73/ Laranja Mecânica da Holanda 1974
Flamengo 1981
Milan dos anos 90
Barcelona dos anos 90 até hoje
Aquele abraço,
João Marcos
Defintetely, today I have learnt a lot of football reading your three posts about "11 outros Barcelonas". En each line, I was more and more involved reading, and I have forgotten the rest of things I was doing at the same time in my computer. That means that you are a very good writter. It doesn't happen to me very often ;)
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