Páginas

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Noel sincero

Promessa alimenta. Alimenta projeções, desejos, vontades incontidas, e, porque não, delírios vez ou outra.
O Flamengo foi assim. Por anos a fio a diretoria trazia ao final do ano fábulas para o deleite dos torcedores. Pintavam-se cenários de uma gávea renovada, de um estádio novo levantado, uma grande arena para os novos reforços que viriam. E que reforços...

A quantidade dos atletas prometidos só não era maior que a qualidade dos mesmos. Perco os nomes, pois tantos foram. Craques de gabarito internacional eram prometidos. Mais que isso, o nome destes era falado com tamanha tranquilidade e propriedade que parecia uma realidade inexorável a chegada deles. Amanhã, pensava eu e outros mais aos milhares, chega o cracaço de bola prometido. O discurso era muito convincente. Um torcedor, que é movido a paixão, entra na conversa. É um misto de inacreditável com "vai vir sim, a diretoria falou". 

Só que o Natal passa, o Ano Novo chega e o presentão não vem. Sentia-me traído. 

Convido você a retroceder no tempo comigo, mas não a um evento comum a nós, mas sim a algo peculiar, pertinente tão somente a sua própria vida. Lembre-se de alguma ocasião em que você se sentiu incomodado com promessas perdidas no ar. Eu, assim como você, fiz isso aqui nesse exato momento. Minha mente recuperou uma situação pertinente à minha infância. Quem tem alguma memória de quando criança, sabe como é doloroso ouvir uma promessa não cumprida. Magoa, o ressentimento fica estampado. Recordo-me de uma situação onde uma promessa a mim feita não foi levada a cabo - não foi por parte dos meus pais, graças ao Criador. A sensação é péssima. A afirmação que se faz imediatamente é: "essa pessoa não tinha porque fazer isso, era melhor não dizer nada". De fato, o calar também tem seu valor. 

No entanto, assim como as escoriações se cauterizam, as marcas deixadas pelas promessas não cumpridas também. 

Bom, os desdobramentos provenientes disso são pelo menos dois. O primeiro deles é que você fica marcado, mas o local ferido não dói mais. Já está cauterizado. Pode tocar, não incomoda apesar de ainda ser possível visualizar bem o ponto onde foi dado o corte. O mesmo efeito se estende no que diz respeito ao emocional. Quando cauterizado, o ponto em que se foi ferido não dói mais, apesar de ficar na memória a marca. Torna-se uma recordação típica da indiferença.

O segundo desdobramento é a malícia. Uma vez que se machuca, o indivíduo aprende a se prevenir um pouco mais. É evidente que ele não fica imune a toda e qualquer intempérie, mas de que ele fica mais espertinho não há dúvida. Perdoe-me a divagação, mas precisava fazê-la para mostrar o que as promessas dos últimos finais de ano que o Flamengo fez fizeram a mim. Elas incomodaram, afinal, não foram cumpridas. Torcedor sente isso, não tem jeito. Mas com elas aprendi a ser mais esperto quanto ao que o clube oferecia. O que infelizmente é um ponto até negativo, visto que se duvida muito mais do que se dá de crédito quando se trata de discurso de diretoria do clube. 

Até aqui o texto parece melancólico, este que segue, pensa você que me lê, devia ser o parágrafo derradeiro do entristecimento, com uma conclusão tristonha de um sujeito que ficou velhaco pelas rasteiras que tomou em função papos furados que ouviu ao longo da existência. Mas não. A verdade é que o efeito Papai Noel que acontecia no Flamengo mudou. Hoje o clube é muito mais cauteloso, e que bom que é. 

Hoje me identifico até mais com a diretoria. Também sou assim, prefiro não prometer nada. Acho melhor aparecer com um carro novo à porta e buzinar, pegando todos de surpresa, do que prometer um carro novo, gerar expectativas, e não aparecer com o dito cujo. Identifico-me mais com esse modelo atual. Não, não é covardia, é sensatez. É respeito com os sentimentos dos demais, é cautela, é saber a hora certa de soltar os fogos e saltitar de alegria. 

O Noel hoje em dia é sincero. O Flamengo luta pelo que quer, mas não promete. Foi assim com Ronaldinho Gaúcho ano passado. Entrou na briga, mostrou interesse, mas não falou que era nosso antes do tempo. Depois de assinado a Presidente Patrícia Amorim alegrava aos flamenguistas espalhados pelo planeta falando "é nosso". Parabéns, trabalho e sinceridade.

Esse ano a mesma coisa, Flamengo demonstra o interesse, mas não fica prometendo. O clube vai atrás, se andar, está andando, se não andar, se movimenta pra outro lado. Mas e o caso Love? A mídia está falando. A mídia está falando porque tem que falar, o Flamengo, acertadamente, corre atrás, mas não promete, não dá como derradeiro o destino final. Noel sincero, isso que eu quero. 

Flamengo, me identifico mais com esse seu lado humano, traz o que consegue, faz o que pode, e não promete ainda que alguns queiram.






Você que lembrou de uma situação amorosa na sua vida ao lembrar do episódio passado que te magoou, não ligue. A pessoa certa ainda aparece, pra mim já veio, pra ti vem também. Beijos! Feliz Ano Novo! 

2 comentários:

  1. Ainda tem o fato de que quanto mais se promete algum jogador mais caro ele fica. Absurdo salário de jogador de futebol. Astronômico! Principalmente pro nosso país!

    ResponderExcluir
  2. Caso Kleber lateral do Internacional é o mais recente desse modelo!

    ResponderExcluir