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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Uma partida, três visões


Santos 0x4 Barcelona


Um mesmo acontecimento presenciado por várias pessoas pode ser contado de formas bem contrastantes, todavia isso isso não faz da média das narrativas ser a verdade que se procura sobre a situação em questão. Elas são visões de um mesmo evento, sob ângulos e expectativas distintas. O que o Estagiários promove hoje é a imersão do nosso leitor nessa experiência, ao apresentar a visão de três dos seus escritores sobre o mesmo acontecimento do qual foram testemunhas televisivas oculares. A leitura adiante não revelará qual visão é a mais acertada, avessamente a isso promoverá ao leitor como o nosso imaginário, expectativas e olhares se confundem com o que aconteceu ontem em Yokohama. Luiz Felippe Reis, Pedro Gilio e Higor Ferreira com a palavra.


LUIZ FELIPPE REIS - Algo me tirou o sono. Não, não foi o despertador ao tocar às 8h deste domingo. O que tirou o sono foi a mutação incrível da imprensa em relação ao Barcelona. Até antes da Final, era um grande time, mas que o Santos tinha condições de vencer. Pois bem, depois do massacre do Barça, tudo mudou. Time de ET, Oh, Messi, Oh Iniesta, Oh Xavi. De "apenas" um timaço, para imbatível, muito melhor que todo mundo. Pera lá, e a coerência? Deixa pra lá. O 4x0 tem sido tratado como um resultado natural de um time incrível, contra um apenas bom esquadrão do Santos. Opa. Eu vi o GETAFE ganhar desse time. Eu vi o REAL SOCIEDAD e ATHLETIC BILBAO empatarem com esse time aí. Por que para o Santos não dava? sempre foi previsível? 1-7-1 nato, hein?

O Santos poderia ter vencido. E não era um poderia do estilo: "Eu poderia pegar a Joana Machado." Era um: "Eu poderia ganhar um bom presente de amigo oculto" Um poderia possível. Pequeno é verdade, mas com alguma possibilidade. E o poderia, se transformou num "Não pode" por conta de um treinador incapaz. Deve ter passado 5 meses olhando o Barcelona. Chegou na hora e fez tudo que o Barça queria. Jogou com medo. Não conseguiu passar nada para os jogadores. O Santos do Mundial, foi o Santos do brasileiro. Foi até o Santos da Libertadores. Que saudades daquele Santos do Dorival Campeão Paulista 2010, esse era o time. Muricy adora falar "Quer ver espetáculo? Vá ao teatro!" Não, Muricy! Não preciso ir ao teatro para ver arte e espetáculo, é só ligar a TV e ver o seu time ser humilhado pelo mágico Barcelona.

PEDRO GILIO - O Barcelona, como eles mesmos tratam em catalão, é "més que un club". O Barcelona é um ícone que ajuda a elevar a autoestima do povo catalão. É uma válvula de escape (principalmente durante os anos de ditadura Franquista) para esse povo fugir da cultura espanhola e mergulhar nos seus costumes catalães.

Esse Barcelona dos tempos atuais foge da cultura cosmopolita do futebol atual onde as equipes jogam com 11 jogadores de nacionalidades diferentes em alguns casos. Esse Barcelona representa a alma da Catalunha, dos 11 titulares da final do Mundial contra o Santos, 9 foram formados nas "canteiras" do clube (apenas Abidal e Daniel Alves não foram), 7 espanhóis, um brasileiro nascido, criado e naturalizado na Espanha e outro argentino que chegou aos 13 anos ao clube e absorveu a alma do Barcelona. E o técnico? Formado no clube como jogador e formado no clube como técnico. Uma aula ao futebol brasileiro. "Craque o Flamengo faz em casa"??? Tem certeza?

Dada a apresentação do que é o Barcelona vou expressar toda a minha admiração por Xavi Hernandéz. Para mim ele é o ponto "chave" (se é que vocês me entendem) da equipe. Desde que eu me entendo por gente como admirador de futebol eu vejo Xavi comandando o meio-campo do Barcelona. Me lembro dele ainda nas década de 90 jogando ao lado de Rivaldo e cia. Óbvio que ele ainda era um mero coadjuvante, ao contrário de hoje em dia, quando divide os holofotes com Messi e Iniesta. Mas o seu futebol apesar de brilhante é um futebol de coadjuvante. Ele carrega o piano nas costas. Marca, ataca, organiza, faz o time rodar. É o ponto crucial da equipe. Sem ele o Barcelona não seria o mesmo, sem ele o Barcelona perderia toda a dinâmica que essa equipe tem.






Quem merece palmas é você, Xavi...









Xavi deu 110 passes na final do Mundial, acertou 110. Pode-se argumentar que ele dá muitos passes curtos, mas mesmo assim, como é possível alguém que fica tanto com a bola no pé durante o jogo acertar todos os passes que tentou? É um feito e tanto para muitos jogadores mas apenas uma rotina para Xavi. Eu não vejo ninguém no mundo que jogue tanto quanto ele no seu clube e na sua Seleção. Levando isso em consideração, para mim, Xavi Hernandéz é o melhor jogador do mundo.

Tá certo que o objetivo desse post era falar sobre a fantástica vitória do Barcelona sobre o Santos na final do Mundial, mas não consegui fugir de falar sobre o que representa Xavi para a história que está sendo vista por bilhões de pessoas amantes de futebol. Xavi é o Barcelona, o Barcelona é o Xavi.

HIGOR FERREIRA - Barcelona cometeu o crime. Os vestígios estão aí pra investigação. Setenta-e-tantos porcento de posse de bola, inúmeras roubadas e passes acertados pra mais daquilo que eu possa contar. Quem faz o scout do jogo tem dificuldades, acho que fica incrédulo.

O time é isso tudo mesmo, uma máquina, implementou um novo paradigma pra bola. É daqueles times que marcam história no futebol mundial e que imprimem identidade a uma época. Nunca vi tamanha superioridade no controle sobre o principal instrumento do jogo - o esférico - como vejo esse time fazer.

No entanto, assim como os paradigmas científicos, mesmo os mais bem fundamentados, podem ser questionados, postos a prova, o paradigma da bola do Barcelona também pode. Nada é mais estranho à ciência do que a concepção de intocável, inquestionável, irrevogável. Tudo pode, e mais do que isso, deve ser posto a prova. Dessa forma o conhecimento se reconstrói em novos moldes. Com o paradigma do Barça o mesmo acontece, ele pode sim ser testado. Diria mais, já o foi e sua falibilidade foi provada algumas vezes. Como assim? Ora, quem é vivo sabe que o Barcelona já perdeu pra outras equipes de menor investimento e muito menor qualidade do que esse time do Santos, que conta com pelo menos dois selecionáveis do Mano Menezes, P.H Ganso e Neymar.

Acho que cometi erros ao achar que o duelo seria entre Neymar e o Messi. Bom, erro em parte. Talvez esse seria o duelo se o time santista tivesse jogado. Já que só uma equipe jogou o duelo dissipou no ar de Yokohama. O duelo que ficou mais visível foi o do Muricy contra o Guardiola. O da equipe pra frente contra o ferrolho, aliás só de nome porque na prática foi muito bem peneirado pela tabelas incessantes do time catalão.

O Santos se apequenou, tentou fazer uma marcação em zona que foi facilmente dobrada pelo adversário. Muito toque de bola, paciência, 8 jogadores em 11 que sabem tratar com carinho a ferramenta de trabalho  (os três que não sabem são Puyol, Piqué e Abidal, depois veio o Mascherano, mas que quando entrou substituiu o Piqué) e voilá, 1,2,3,4.

O jogo foi o retrato do esperado, do esperado contra o Al-Sadd, contra o Kashiwa, não contra o Santos. Não contra esse Santos. Surpreendi-me grandemente, mas fiquei maravilhado pelo domínio em um jogo onde não havia um time grande, mas dois. Se fosse o duelo de um gigante contra um fedelho não me apeteceria tanto, mas, pela circunstância, pelo adversário, o jogo de um time só me encantou. Poderia ter sido diferente, mas o futuro do pretérito é o tempo verbal favorito dos inconformados. Não sou desses. Barcelona, obrigado pelo espetáculo, fui honrado.

6 comentários:

  1. Barça o melhor do mundooooo!!!!
    Não jogou contra o Santos e sim deu uma aula de mestre ! forever#

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  2. Impressionante a necessidade do Pedro em cutucar o Flamengo. hahahaha Alguém tem que chamar o Ministério Público pra averiguar isso direito. Não é possível. Cadê as autoridades nessa hora?

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  3. Desculpa Higor, mas eu tenho que manter o personagem tricolor, não é mesmo?

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  4. Parabéns garotos! é bom ver essa moçada que gosta de futebol mas que sabe escrever também e tão bem.

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  5. Valeu Faber, muito obrigado pelo prestígio!

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